Blog pra mostrar atitude diferente

Vale muito a pena.

Recebi essa notícia por e-mail. E achei tão legal que resolvi postar ela inteira mesmo. É da revista escola, e segue a notícia abaixo.

Se a falta de tempo (ou preguiça memsmo)  for grande eu deixei umas partes em destaque pra você ler, ok?

Vale mais que um trocado

Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos motoristas parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi

Rodrigo Ratier (rodrigo.ratier@abril.com.br)

“Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?” Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores ambulantes, pessoas de todas as idades que fazem dos congestionamentos da cidade de São Paulo o cenário de seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma combinação com os colegas de NOVA ESCOLA: em vez de dinheiro, eu ofereceria um livro a quem me abordasse – e conferiria as reações.

Para começar, acomodei 45 obras variadas – do clássico Auto da Barca do Inferno, escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina Albertina, da contemporânea Christine Davenier – em uma caixa de papelão no banco do carona de meu Palio preto. Tudo pronto, hora de rodar. Em 13 oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais.

Nas ruas, tem de tudo. Diferentemente do que se pode pensar, a maioria dessas pessoas tem, sim, alguma formação escolar. Uma pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, realizada só com moradores de rua e divulgada em 2008, revelou que apenas 15% nunca estudaram. Como 74% afirmam ter sido alfabetizados, não é exagero dizer que as vias públicas são um terreno fértil para a leitura. Notei até certa familiaridade com o tema. No primeiro dia, num cruzamento do Itaim, um bairro nobre, encontrei Vitor*, 20 anos, vendedor de balas. Assim que comecei a falar, ele projetou a cabeça para dentro do veículo e examinou o acervo:

CAMINHO LIVRE A cada livro oferecido em vez
de esmola, um leitor descoberto.
Foto: Rogério Albuquerque.

– Tem aí algum do Sidney Sheldon? Era o que eu mais curtia quando estava na cadeia. Foi lá que aprendi a ler.

Na ausência do célebre novelista americano, o critério de seleção se tornou mais simples. Vitor pegou o exemplar mais grosso da caixa e aproveitou para escolher outro – “Esse do castelo, que deve ser de mistério” – para presentear a mulher que o esperava na calçada.

Aos poucos, fui percebendo que o público mais crítico era formado por jovens, como Micaela*, 15 anos. Ela é parte do contingente de 2 mil ambulantes que batem ponto nos semáforos da cidade, de acordo com números da prefeitura de São Paulo. Num domingo, enfrentava com paçocas a 1 real uma concorrência que apinhava todos os cruzamentos da avenida Tiradentes, no centro. Fiz a pergunta de sempre. E ela respondeu:

– Hum, depende do livro. Tem algum de literatura?, provocou, antes de se decidir por Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

As crianças faziam festa (um dado vergonhoso: segundo a Prefeitura, ainda existem 1,8 mil delas nas ruas de São Paulo). Por estarem sempre acompanhadas, minha coleção diminuía a cada um desses encontros do acaso. Érico*, 9 anos, chegou com ar desconfiado pelo lado do passageiro:

– Sabe ler?, perguntei.

– Não…, disse ele, enquanto olhava a caixa. Mas, já prevendo o que poderia ganhar, reformulou a resposta:

– Sim. Sei, sim.

– Em que ano você está?

– Na 4ª B. Tio, você pode dar um para mim e outros para meus amigos?, indagou, apontando para um menino e uma menina, que já se aproximavam.

Mas o problema, como canta Paulinho da Viola, é que o sinal ia abrir. O motorista do carro da frente, indiferente à corrida desenfreada do trio, arrancou pela avenida Brasil, levando embora a mercadoria pendurada no retrovisor.

Se no momento das entregas que eu realizava se misturavam humor, drama, aventura e certo suspense, observar a reação das pessoas depois de presenteadas era como reler um livro que fica mais saboroso a cada leitura. Esquina após esquina, o enredo se repetia: enquanto eu esperava o sinal abrir, adultos e crianças, sentados no meio-fio, folheavam páginas. Pareciam se esquecer dos produtos, dos malabares, do dinheiro…

– Ganhar um livro é sempre bem-vindo. A literatura é maravilhosa, explicou, com sensibilidade, um vendedor de raquetes que dão choques em insetos.

Quase chegando ao fim da jornada literária, conheci Maria*. Carregava a pequena Vitória*, 1 ano recém-completado, e cobiçava alguns trocados num canteiro da Zona Norte da cidade. Ganhou um livro infantil e agradeceu. Avancei dois quarteirões e fiz o retorno. Então, a vi novamente. Ela lia para a menininha no colo. Espremi os olhos para tentar ver seu semblante pelo retrovisor. Acho que sorria.

* os nomes foram trocados para preservar os personagens.

A ideia está no ar. Vamos praticar também?

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4 Respostas to “Blog pra mostrar atitude diferente”

  1. monica delázari Says:

    nossa!muito legal a iniciativa* vou postar assim que der em algum blog meu (acho que em um que estou começando este mes sobre justamente educação).

  2. anna Says:

    nossa, já tinha lido essa reportagem e achei isso muito legal!
    (e eu que estudo num lugar onde a biblioteca tem a seguinte regra: os dias que atrasamos a entrega dos livros, quando devolvemos, temos que ficar x dias sem pegar livros de “castigo”. vê se pode. boicotando a leitura dentro da instituição)

  3. Bruna Clares Says:

    .
    .
    .
    bom dia
    esta ideia é muito interessante.
    resolvi juntar alguns livros meus e alguns
    tantos de amigos e final de semana que vem
    estaremos fazendo o mesmo…

    torço para que possamos ter reações semelhantes
    as citadas….será um prazer enorme. Estou
    muito anciosa.

    bjo

  4. green smoke promo code Says:

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